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SOMOS PONTOS PERDIDOS NO AZUL

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Átimo de segundo... Paro e penso na pequena flor colhida pela incauta brisa que soprou mais forte, passou incerta em sua condição de brisa ou vento. Os pés que pisam a calçada nua e quente e que um dia serão apenas sopro inexistente, sei que os meus olhos não enxergam mais que o horizonte em que habito. Quantos horizontes mais se abrem ao amanhecer de todos os dias? Na soleira da porta a borboleta verseja a procura de uma flor, enquanto a cambaxirra triste pia solitária nos nichos de telhas. Quantas folhas soltas caem...folha de caderno. Quantas folhas vivas queimam sem proteção nem lamento. Somos sortilégio ou maldição? Que espécie supera a própria gênese e ignora a vida? Questões...questões... Não há resposta para desafogar a dor e a beleza de "ser", mas também não há cura para o "existir" em profunda solidão ancestral. O caminhar é trôpego, a inconstância nos leva pela mão, o embrutecimento da razão adoece a mais tenra criança e a faz dormir no berço confortáve

DONA JÚLIA

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A manhã ia alta, a luz do sol dourava os telhados das casinhas, os raios solares faziam desprender do mato um agradável aroma de ervas maceradas. Na vila de Santa Luzia do Carangola, enquanto as cigarras entoavam seu estridente mantra, as horas escorriam como fios d’água nas folhas de inhame. Lentamente a pequena vila acordava e os habitantes tomavam seus lugares no cenário matutino, os pequenos comércios abriam suas portas, leiteiros e verdureiros seguiam em suas carroças rumo às residências. Um jardim de chaminés soprava no céu baforadas de fumaça denunciando que nas cozinhas o almoço era preparado. Tudo era sonolência na pequena vila. Ao longe se ouvia alternadamente o canto enérgico de um galo. Santa Luzia do Carangola era cercada por propriedades rurais, nos arredores, homens, mulheres, famílias inteiras trabalhavam nos canaviais, nas lavouras de café, nos currais para garantir a parca sobrevivência. Entre os habitantes da vila vivia a família Ferreira, gente trabalhadora e que
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INFÂNCIA Estes caminhos guardam um pouco de mim, em cada canto. Na Praça da Igreja, na calçada rústica, no badalar de cada hora pelo sino da matriz. Gosto das luzes ao c air da tarde, lembram cenas de postais. Meu coração anda tão sombrio quanto o céu deste lugarejo. Já não me encontro aqui, nem em lugar nenhum, perdi os lugares, as referências, ganhei outra lembrança triste. Lembrança do que eu não entendia. Um lugar que não me pertencia, no qual eu apenas transitava como o fantasma solitário de Hamlet. Triste Ofélia. Hoje não escreverei mais nada. Sobre saudades, amigos, família. Mais nada...
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NILZA Cidades do interior possuem beleza, silêncio, tristezas e solidão. Foi em uma dessas que cresci, vendo o tempo se arrastar por minutos intermináveis e incontáveis dias. As ruas imutáveis, nas quais a modernidade não alcança as casas taciturnas, bucólicas e recatadas onde se escondem segredos em cada brasão imaginário de tradição interiorana. Os comércios de fachadas simples que sugerem muito trabalho e pouco recurso, são acessíveis a todos, da senhora do casarão na rua principal ao camponês de pés descalços. Nas pequenas cidades também existem os bairros mal vistos nos quais moram gente de baixa renda, de estirpe duvidosa e que reconhecem pertencer ao “seu lugar”, não compartilham os clubes, as festas e muito menos os hábitos dos moradores mais abastados que ocupam os bairros privilegiados. É uma “casa grande e senzala” intrínseca na vida das pessoas que levanta uma barreira assustadoramente real em um lugar tão pequeno em que todos se encontram nas poucas esquinas. Antes
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Maria Victória Martins ( Minha tia )          O período de férias na casa de minha avó era especial por dois motivos, pela vinda de meus primos cariocas (filhos da tia Eli), o que significava brincadeiras, histórias em quadrinhos e companheirismo e também pela chegada de minha tia Victória que também morava no Rio de Janeiro. Quando minha avó dizia em tom solene “A Victória vai chegar na terça - feira” ficávamos ansiosos para que a terça chegasse logo.          Tia Victória chegava à noitinha ou pela manhã, o táxi parava na rua de baixo e ela subia a escada de pedra que dava acesso a casa. Sempre muito elegante, vestia saia e blusa combinando, sandálias de salto baixo, um sóbrio casaquinho sobre a blusa. O charme de minha tia era o lenço elegantemente amarrado ao pescoço como se usava na Europa na década de 70. Unhas bem feitas, cabelo tratado, sobrancelhas bem desenhadas e uma maquiagem leve lhe emprestavam um ar de senhora da alta sociedade. No pulso delgado, trazia um pequeno
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Disseram-me que poemas são gotas de lágrimas, Que acrósticos são soluços libertos do peito. As crianças me perguntam: "E as palavras, o que são as palavras?” Eu respondo que as palavras são a chave para se prender o sentimento. Significado e significante, como dizia o velho mestre, Às vezes, convenções apenas. Não! Eu me recuso a acreditar, a aceitar o convencional. Sou pelas palavras como expressão do "ser", "estar", "sentir", Sinto as palavras como vergalhão em brasa que dilacera a carne da alma. Tenho as palavras como instrumento do meu labor. Alguém me disse que palavras, são imprecauções incautas soltas ao vento. Eu digo que palavras, para nós que vivemos delas, são dardos certeiros, são punhais afiados, são facas de dois gumes. Podem ser o "mote", podem ser a "sorte" a que todos estão sujeitos. Luz
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I miss my life before When everything was possibilities When mother and father were present When my brothers were there My sister kept the treasure chest. They were his treasures, comics, ribbons, combs My mother died for her sorrows. My father felt the loss and the distance... I, in my small and strange world, survive What moon was the one that illuminated all this? In a distant sky, capable of separating good from evil I miss the wind, I miss the smells, the heat that kept us warm Who gives me back this lost world? Who gives me back the soft mornings? No one can give back the past Do not ease the pain I feel Because I died in the mountains…